quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Espremer até não mais doer

 










Tenta com garras de leoa
Rasgar a fissura da parede
Obrigá-la a ceder para entrar
Apertar-se tanto até que a dor não doa
E as lágrimas congelem caídas
Do seu triste, dilacerado olhar.

Quer espremer-se tanto
Até que as entranhas lhe digam
O que anda ela a fazer
Para aquele tormento acontecer.

Quer saber do que a acusa
Não para se defender ou contra-atacar
Quer perceber por que está tão irado
Para que possa melhorar.

Fátima Henriques


(sujeito poético: ela)

sábado, 4 de setembro de 2021

pés e marés

 


Atónitos,
Não queriam acreditar
À sua frente desfilavam
As amadas com quem queriam casar

Fizeram-se ao caminho
Entusiasmados
Sobre a areia ciumenta
Que insistia em reclamar:
Tantas juras de amor ao luar
E afinal querem a água do mar

Eles seguiam sem se importar
Alienados pela fresca maresia
Queriam abraçar com fervor
As ondas vestidas de branco
Que rebentavam de alegria.

Os pés!

A sua pele faminta
De sol, de sal, de mar
Procura na terra da praia
O seu sereno lugar.
Deseja ser raiz
Para chegar às profundezas
Enrolar-se na candura das vagas
E para sempre ser feliz!

Fátima Henriques